terça-feira, 29 de setembro de 2009

love and marriage

Estava tomando café, sozinha, no hotel. Era perto das 9 horas da manhã, e já fazia calor. O dia estava bonito.
Ali no restaurante uma música calma. Pessoas entrando, procurando lugar, mastigando, conversando. Não havia muita gente, de modo que me foi possível observar algumas cenas interessantes, como aquela mulher tropeçando, e aqueles japoneses falando freneticamente.
Não sei por que virei o rosto - afinal, japoneses falando freneticamente é algo que chama atenção - mas pude ver aquele casal que entrava. Um casal de velhinhos. Foram inspecionando o local até chegar à mesa. Achei-os tão simpáticos, que fiquei observando.
A senhora sentou. O senhor apoiou as mãos na cadeira, mas não sentou, foi logo servir-se. A senhora ainda ficou uns instantes olhando-o, então foi pegar seu suco. Começaram a escolher: ela pegava um bolinho, ele pegava um pãozinho. Ela pegou um folhado, ele pegou um biscoito. Ela foi pegar um pão de queijo, havia acabado. Nesse instante ele já estava indo em direção à sua mesa, mas parou. Ela não disse nada, nem olhou pra ele. Ele pediu para o garçom trazer pão de queijo. A senhora continuou sem nem olhar para o senhor. Ele sentou-se.
Ela pegou o que queria e foi sentar também.
Sorriu ao sentar.
Foi retribuída com um sorriso e seus movimentos, acompanhados por um longo olhar.
Ela disse algo em relação ao suco. Ele acenou com a cabeça. Começaram a conversar, uma conversa empolgada, e olhavam-se fundo dentro dos olhos. Cada um prestava atenção em cada palavra do que o outro dizia, e comentava, e gesticulavam, e sorriam. Queria ter ouvido a conversa, mas isso já é bisbilhotice de minha parte.
Ele levantou, pegou mais alguns petiscos. Levava até a mesa, voltava e trazia um igual para ela. Sentou. Ela arrumava as coisas em volta dele, como se soubesse ordinalmente o que ele iria comer.
Ele pegou sua mão, colocou um bolinho e levou até a boca dela.
Ri da cena. Foi como um recado, “cada um com a sua comida”.
A senhora acabou seu suco, olhou-o comer. Ele parou de mastigar, olhou para ela e assentiu com a cabeça. Ela levantou e saiu. Ele ainda ficou um pouco com o queixo apoiado nas mãos entrecruzadas. Levantou-se, foi até a mesa de sucos, tomou um copo cheio. Gostou. Foi embora.
Fiquei ainda um tempo no clima daquela cena que acabava de ver. Apaixonei-me por aquele casal senil, que se conhecia tão bem, e há tanto tempo que já sabiam tudo o que um e outro queria, fazia, e mesmo assim ainda continuavam ouvindo atenciosamente um ao outro.
Acho que é isso que faz as pessoas ficarem juntas... o sabor de ter um companheiro que dê importância aos pequenos gestos, e ache tudo particular e característico. O mundo é tão cheio de gente, ninguém chama atenção. Mas você sempre lembra e é lembrado por alguém a quem ama.
Ainda quero ter alguém assim... Que, mesmo depois que eu vá embora, levante e experimente o suco que eu recomendei.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

untitled

Quando pensou nele, ela sorriu.
Sabe aquele sorriso singelo? Aquele sorriso que traduz toda a beleza do mundo... Aquele sorriso que faz a vida parecer tão linda, que dá vontade de estar ouvindo o som do mar, deitado na areia, aspirando a maresia; entende o sorriso?
É esse mesmo.
Então ela ligou pra ele, pra poder conversar.
Acho que ele não estava em casa, o telefone tocou algumas vezes. Ela desligou, antes que alguém atendesse.
Ela sentou em sua cama, pegou a guitarra e tentou tocar alguma coisa. Mas não conseguiu. A cada cinco notas ela pensava em falar com ele. O clima não estava para guitarra. Estava para violão.
O violão não estava em casa. Decidiu sair.
Pensou em buscar o violão, mas no meio do caminho desistiu. Afinal, teria que ficar conversando aqui e ali, e o clima não estava para conversas.
Foi para a praça e sentou num banco. Havia algumas pessoas barulhentas por lá. Acho que era algum tipo de música muito fora do contexto do coração dela. Definitivamente o clima não estava para aquilo.
Ela sentiu falta de ler. Ela sentiu falta dele.
Ele não estava ali, e não estava ao telefone. Ele não estava na vida dela, ou ela não estava na vida dele, algo assim. Mas a presença dele era tão constante!
E com a cabeça dando voltas, logo ela já estava a caminho da biblioteca. As pernas foram caminhando, caminhando, ela nem via onde estava. Escolheu um livro qualquer, era um pretexto pra pensar.
Tinha um papel e uma caneta na bolsa, escreveu o nome dele algumas vezes. Parava, olhava seu livro, sentia-se boba. Depois desenhava alguma flor, sempre o mesmo modelo de flor, o que ela achava que ficava mais bonito.
E um garoto sentado na outra mesa estava olhando para ela. Ela agora lia. Ele olhou por mais algum tempo, então foi para a mesa dela. Ela conhecia o garoto, falou bastante. Falou sobre seus planos para o futuro.
Até ela sabia que eram planos incertos, aliás, que na outra semana já mudariam. Ela é jovem. Ela pensa muito.
Ela voltou a pensar nele. O garoto se despediu, foi embora. Ela ficou. Ficou e ficou, por um bom tempo, olhou as crianças, as flores ali fora, os caras fumando maconha, o passarinho que cantava esquisito.
Ela resolveu ir embora. Não adiantava nada, ela sabia que não o encontrar
ia ali, nem em algum outro lugar. Suas pernas a levaram de volta; a cabeça ficou vagando por aí.

a menininha

Aquela mulherzinha não tinha mais que 4 anos de idade. Era um fim de tarde, na praça, em frente à igreja, e apesar do borbulho de pessoas e carros passando, estava tudo calmo. O único som que se ouvia provinha de uma mãe, em cujo rosto notava-se sinais de leve impaciência. Trazia a filha mais velha pela mão, e no colo um pequeno cão, todo cheio de frufrus e com o pelo mais alvo que a neve. Como a filha mais nova não obedecesse, a mãe veio e sentou-se num banco, ao lado do meu. A filha mais velha passeou em volta, mas sempre de olho na mãe. O cachorrinho olhou em volta com desdém, e sentou-se, pois não tinha lugar melhor para ir.
Quando viu a cena, a mulherzinha, lá da frente da igreja, gritou pela mãe. As senhoras que estavam na missa voltaram-se, com um olhar desaprovador. A mãe, provavelmente acostumada com as manhas da filha, fez que nem viu. A mulherzinha – e a chamo de mulherzinha justamente pelas poses, caras e bocas que fazia – pôs as mãos na cintura, bateu o pé e fez uma cara feia. Gritou de novo, agora olhando para o lado da irmã. A irmã parecia a própria mãe em miniatura, fez que não viu, fez que viu um pássaro, mas continuava de olho na mãe, que aprovou sua atitude. A pequena ficou desapontada. Ninguém iria voltar para brincar com ela, correndo em frente à igreja. Finalmente, embora com a cara fechada, decidiu ir até sua mãe. Ainda fez uma manha, mas com os passinhos lentos começou a andar. Deu uma ajeitadinha na mini saia, passou as mãos no cabelo, e apertou o passo para ouvir o “toc toc” das botinhas. Começou a andar rapidamente, para mostrar ao mundo que aquele desapontamento não a afetava.
Chegando ao banco, chamou o cachorro. O cachorro teve a mesma atitude da mãe e da irmã mais velha: fez que não viu. A mãe tinha uma expressão indecisa: não sabia se ria da situação, ou se ralhava com a pequena manhosa. Achou melhor não se intrometer, pra ver até onde iam as coisas. A pequena deu alguns passos para trás e gritou: “Scooby!”. O cachorro olhou para ela, olhou para a mãe, e ajeitou-se melhor no colo desta. A mulherzinha se enfureceu, agora era uma questão de honra. Ajoelhou-se, deu uma batidinha nas pernas e gritou:
- Scooby!
O Scooby nem se moveu. Então ela sorriu e fez a voz mais meiga do mundo:
- Scooby, Scooby!
Realmente aquele era um cachorro difícil. Sequer levantou a cabeça para olhar para a menina. Nem a meiguice dela o havia convencido.
Diante do total desprezo do cachorro, e da indiferença da mãe às suas manhas, ela já não tinha o que fazer. Começou a praguejar e choramingar, em um altíssimo tom de voz, numa linguagem própria, mais ou menos assim:
- Mamã o iscubi nhã nhã ahãhã quelo ir la ele não vem hãhãã.
As senhoras da missa agora voltavam-se completamente, pois o som feroz da mulherzinha fazia eco na praça. Para a mãe, foi a gota d’água. Levantou-se, pegou o cão presunçoso, chamou a filha mais velha, e foi andando. A pequeninha batia os pés, firme na sua posição de continuar ali na praça. Não importava se a temperatura caía, se estava começando a escurecer, se as senhoras da missa já se mexiam nas cadeiras – queria ficar ali! Virou de costas para a mãe, como num ato de total revolta. A mãe não deu pelota, continuou seu caminho. Quando a pequena virou, já não viu mais ninguém. Olhou a sua volta e percebeu que, apesar de ser uma mulher decidida, o mundo era muito grande e ela muito pequena. Com o orgulho ferido, desandou a correr, e o eco na praça agora dizia:
- Pelai mamãe!
então... tenho umas coisas aqui salvas no pc, vou ir postando aí :)
algumas já faz tempo que eu fiz já, e tal, outras vou ir escrevendo ao longo desta jornada(/infame)
hoje vou postar duas que eu tenho aqui no pen drive :B
beleza, falous

fogo

  sinto que você me leva para outro mundo uma outra dimensão não consigo segurar firme meus pés no chão tento não alimentar