Susana usava um belo vestido naquele dia, belo vestido mesmo. Tinha várias camadas e véus, que esvoaçavam, e Susana luzia.
Ela estava em pé, no alto de uma montanha que existia no fim do horizonte.
Na verdade, ali não era o fim. Além da montanha havia um vale. Além do vale estava a praia. Além da praia estava o mar, além do mar brilhava o sol, e ali sim era o fim do horizonte, e era tudo e apenas isso que Susana via do alto da montanha.
Quem ao acaso ler esta história há de duvidar, mas o fato é que havia ali no alto um reluzente jardim, e Susana encontrava-se ao lado de uma enorme macieira. O vento balançava os galhos da árvore, as folhas caíam aos borbotões. O próximo alvo do vento eram as saias da moça, e seus cabelos dourados. Se você não estava lá, talvez imagine uma moça loira. Mas ela não era loira, nem morena. Muito menos tinha cabelos castanhos: seus cabelos eram dourados.
Eu apenas a via de costas, e não vi mais do que seu perfil. Mas pude sentir que em determinados momentos ela fechava os olhos prolongadamente, e depois abria num suspiro.
Susana era linda. Não, não digo que eu tenha observado se tinha beleza física. O que de físico eu percebi foram seus lindos cabelos, e só. E seu vestido, mas não é o vestido que determina a beleza de uma dama.
A beleza de Susana vinha do momento que ela estava contemplando. Vinha do vento fresco que entrava em sua alma. Vinha da música que seus movimentos executavam, e da melancolia de sua espera. Sim, como era bela e poética aquela menina! Parecia que o vermelho das maçãs, o verde do gramado, o amarelo das flores e o azul o céu só estavam ali para vê-la, para serem vistos por ela. E aquele mar...
Soube que se chamava Susana quando, andando rapidamente e correndo vagarosamente, e gritando o seu nome, um rapaz apareceu.
Ele era alto e moreno, alto da altura dela. Ele mergulhou em seus olhos e parou, hipnotizado. Mas algo em sua fisionomia fazia perceber que ele queria voltar.
Ela arrumou o cabelo do rapaz e, dando meia volta, atirou-se ao chão. A grama fofa acomodou seu corpo. Ela divertia-se tanto! Mas não ria, nem sorria; estava em êxtase. E não compreendia por que ele não estava em êxtase também. Nem eu compreendia. Por este motivo é comecei a observar.
Aos poucos, meus olhos e ouvidos foram se abrindo, e vi que o vestido de Susana era branco; Susana era uma noiva!
E comecei a ouvir risos, e vozes em alto tom, e conversas animadas; então, olhei para o vale e vi uma festa de casamento sendo armada. Os convidados chegavam e falavam, e reparavam em cada centímetro a sua volta.
Voltei meus olhos para Susana e ela estava olhando a mesma cena que me tinha chamado a atenção. Nem viam a magia do alto da montanha, nem viam o sol, nem viam o mar. Apenas olhavam à sua volta, apenas queriam que tudo estivesse certo. E ela os detestava...
Ela puxou o rapaz para que ele se deitasse ali, no chão, mãos entrelaçadas com as dela. Ele a beijou no rosto e disse que deviam ir. Era tarde, ela acordou.
Sumiram os dois, e eu estava lá, tomando uma pedra por cadeira. Eu estava lá.
Depois de um certo tempo olhei para baixo, e vi uma cabeça dourada preparando-se para entrar.
A festa estava começando.