sexta-feira, 23 de abril de 2010

Apenas porque lembrei de você

Quando amanhece o dia

Com o sol brilhando, e as folhas das árvores levemente balançando,

Inevitavelmente eu penso em você

Seus olhos brilham tanto quanto a luz do dia,

E eu sinto um frescor e uma brisa suave em meu coração

Mas quando amanhece chovendo

E não se vê graça nenhuma em observar o céu,

E um desânimo repentino surge, trazendo a

Solidão consigo

E relampejam sustos por toda a parte – é aí que eu mais lembro de você

A sua doçura e o seu conforto

Derretendo dentro de mim

Te abraçar e sentir que não estou só

É o que me aquece

E ouvir teu coração bater,

é o que me comove

com você por perto, a chuva já não parece torrencial,

e sim uma garoa;

os ventos parecem um sopro;

os raios ficam bonitos,

e os trovões não assustam

e amando você eu vejo que,

além de tudo isso, acima de tudo isso,

ainda há sol brilhando,

deixando o dia belo

Sobre velhas em ônibus - Final

Em outra viagem, eu estava sentada sozinha num ônibus vazio. Realmente, só havia eu de passageira, e a viagem era from Florianópolis até Pato Branco. Umas 3 cidades depois de eu ter embarcado, paramos em uma rodoviária, onde havia apenas um passageiro a embarcar: um velho. Eu olhei pela janela, e minha pessimista mente pensou: quer ver que, com esse ônibus todo vazio, a poltrona dele é justamente a do meu lado?

E aonde você acha que era a poltrona dele? SIM! Ao meu lado! Sinto profundamente que tenho azar nessas viagens. Então, ele não quis sentar nos bancos vazios. Quis sentar na poltrona que ele comprou e que era dele, por direito. Como eu já havia ouvido falar em direitos de consumidor, não contrariei o senhor e até apoiei que ele defendesse seu poder de escolha de lugar.

Apesar de eu querer muito dormir, pois quando chegasse em Pato Branco queria estar animada para reencontrar a família, e teria outra viagem a fazer naquele mesmo dia, e apesar de eu ter expressado claramente essa minha vontade, o velho não quis nem saber. Disse que eu era muito jovem para perder tempo dormindo, e contou a história da sua vida desde que veio do nordeste para São Paulo, pegou o ônibus errado para Santos, e como obra do destino conheceu aquela que se tornaria sua mulher. Então se mudaram para Santa Catarina, tiveram uma filha, a filha casou-se com um policial, foram para o Paraná, e agora a esposa insistia em ir visitá-la todo mês, pois havia duas netinhas. E o senhor? Ah, não gostava de viagens em ônibus, preferia muito mais ficar em casa, a mulher é que o forçava. Mas quando chegava e via o rostinho das netas, não queria mais voltar.

Além dessa e de inúmeras outras histórias, perguntou sobre mim. Se estudava, se tinha namorado, se estava com saudade de casa. E me chamava de Gabi, acho que se sentia meu amigo. Tudo bem, apesar de não ter conseguido dormir, aprendi grandes lições de vida naquele dia.

Viajar ao lado de senhoras e senhores mais “experientes” às vezes é desagradável, mas geralmente é bom. Aliás, viajar ao lado de qualquer ser que converse é bom, pois a vida é feita de experiências, e experiências devem ser compartilhadas. Assim vamos construindo aquilo que se chama de “bagagem” para a vida. Claro que pode ser que você não consiga comer seu salgadinho, ou dormir, ou talvez derramem água em você. Mas seja simpático e sociável, as coisas só acontecem uma vez na vida (perceba que minha convivência com velhos me fez gostar de dar conselhos).

Sobre velhas em ônibus - Parte II

Estando ao lado de outra velha, que aparentava ser muito mais tranqüila do que a primeira, abri meu pote de Pringles que havia comprado especialmente para a viagem. Acontece que a cada batata que eu comia, a velha olhava para mim. Ofereci mais uma vez (já havia oferecido antes de abrir o pote), mas ela disse que detestava salgadinho. Percebi que aquilo era comigo. Fechei o pote do meu tão desejado Pringles e, desapontada, virei para o lado na esperança de dormir. Destaque-se que era na esperança de dormir, pois, francamente leitor, você acha que a velha me deixou dormir?

Porém aos poucos o meu mau-humor foi dando lugar a uma grande empatia pela velha. Conversamos por toda a viagem, até ela chegar em Itajaí. Na verdade, conversamos por toda a viagem até a mãe e filha loucas descerem. Então a velha foi para o banco delas, e me deixou sozinha. Deitei nos dois bancos e coloquei os pés na janela. Foi uma das luas mais bonitas que já vi na minha vida, e tudo estava bom. Como anda sentia fome, algumas vezes puxei o pote de Pringles para perto. Olhava de ponta cabeça para o banco onde a senhora estava, e sim, ela estava me olhando. Então rapidamente eu guardava o salgadinho. Enfim, não senti raiva dela por isso. Se ela estivesse comendo salsicha, ou cebola, ou aquelas rosquinhas de vento que comumente as velhas comem em viagens, eu também detestaria.

No fundo eu senti amor por aquela senhora. Muito mais quando ela me disse que estava indo visitar o irmão que estava nos últimos dias de vida, e que sabia que não havia nada a se fazer. Senti um nó na garganta, mas ela disse que estava tudo bem, todos já estavam confortados – inclusive ele – por saberem que ele iria pra um lugar melhor. Fiquei feliz de ouvir aquilo; quando chegar minha hora também terei a certeza das coisas, e poderei ir aliviada. Mas isso é assunto para outra hora.

Mas o que eu quero mesmo dizer com velhas em ônibus é que elas parecem sempre aflitas, e escolhem as piores horas para fazerem as piores coisas, como abrir aqueles copos de água de ônibus justamente no instante em que o motorista está arrancando. Nessas horas eu sempre coloco a mão tapando o rosto, inconformada.

Nesta última viagem de ida pra Foz, não por vontade minha, que fique bem claro, mas nos sentamos perto do banheiro. Isso é uma regra de viagem: nunca sente perto do banheiro. E ainda eu estava na poltrona do corredor, e todos que passavam para ir ao banheiro batiam em mim. Então, quando o motorista estacionou em uma rodoviária qualquer, a velhinha, ao invés de descer e utilizar o banheiro da rodoviária, não: ela levantou-se e dirigiu-se ao banheiro do ônibus. A minha jovem mente não entende a lógica dessas coisas, mas tudo bem, se ela acha melhor, não vou contrariá-la. Assim, a velhinha entrou no banheiro e começou seu trabalho. Nisso, levantou-se um velho e veio em direção ao banheiro. Eu achei natural, afinal velhos gostam de banheiros desconfortáveis (só consigo concluir isso das situações apresentadas). Então ele abriu a porta, e pasmem: a velhinha de dentro não havia trancado! Desculpe leitor, pode parecer maldade, mas eu ri daquela situação. Porque foram dois “clans” muito rápidos: o de abrir e o de fechar. O velho saiu com os olhos arregalados, sentou em sua poltrona e não olhou mais ao seu redor até chegar ao seu destino.


Continua

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Sobre velhas em ônibus

Eu não entendo a disposição de velhinhas de sair por aí viajando de ônibus. Eu, na melhor idade, no máximo compraria uma Harley Davidson e mandaria redobrar o estofado – aí então viajaria pela América do Sul.

Mas as velhas de hoje em dia não. Elas gostam de ônibus, e fim de papo.

E gostam de viajar de dia. Dizem que se sentem agoniadas por não enxergarem a estrada e as coisas que estão acontecendo (ou seja, além de um motorista para conduzir um ônibus, também é necessário uma velha). E ai de você se tiver que viajar com uma.

Certa vez minha avó atrasou uma viagem (a qual faríamos juntas) por dois dias, porque não havia horário de ônibus de dia. A viagem durava 12 horas. Na minha cabeça, não havia nada mais normal do que pegar um ônibus as 23:00, ir dormindo até a cidade-destino, acordar as 11 da manhã, ir para casa e ainda chegar na hora do almoço. Essa era a minha lógica. Mas velhas não gostam disso, elas não gostam de dormir. E velhos também. Eles acham que dormir é para os fracos, que é um desperdício de tempo, e na verdade podem até ter razão. Outro dia li em algum lugar que uma pessoa que vive 60 anos passa 20 anos de sua vida dormindo. O certo seria ficar acordado o tempo todo, inclusive quando se está viajando ao lado de um velho, numa viagem de 12 horas.

Eu não sei se é implicância minha, mas sempre reparo nas velhas em viagens. Eu estava em Curitiba e iria pra Florianópolis, então peguei um ônibus às 21:30 para chegar em Floripa ali pelas 02:30. Já na rodoviária eu reparei em uma senhora que estava fumando como uma máquina, cuja filha, louca como um redemoinho, corria de um lado para o outro – “Mãe, os remédios!”, “Mãe, me dá esse cigarro”, etc. Mas a velha era teimosa, e tinha uma opinião firme: fumaria o quanto quisesse. Eu odeio cheiro de cigarro; por isso, automaticamente meu cérebro pessimista pensou - “Quer ver que essa velha vai sentar ao meu lado?”. Então entrei no ônibus e comecei a procurar pela poltrona de número 13, que é o lado da janela, e que comprei justamente porque a 14 estaria vazia. Chegando na 13, adivinha quem estava lá? A velha! Sem querer o meu cérebro soltou um daqueles palavrões de desabafo, porque realmente eu sabia que aquilo ia acontecer. Mas não sabia que ela iria tomar o meu lugar na janela! Aquilo era o fim.

Muito bem, sentei na 14. Olhei para o banco ao lado, lá estava a filha da senhora. Tranqüila da silva. Não que esse fosse o nome da filha; é que ela estava tranqüila da silva mesmo, por ter se livrado da velha teimosa. E ao lado da filha estava sentada outra velha.

Então, a velha ao meu lado começou a chamar a filha porque queria o remédio, queria bolacha, queria isso e aquilo. A filha tanto se fez de surda, que a velha ao lado dela disse –“Moça, se você quiser, eu troco de lugar com você pra que sua mãe fique mais tranqüila”. Pasmem: até nessa hora a moça se fez de surda! (mas depois eu pensei bem e conclui que até eu me faria de surda se recebesse uma proposta dessas). Então a velha refez a proposta, até que a cidadã percebeu que não haveria como fugir. Porém, a velha ao meu lado não queria sair dali; queria sim que a filha viesse. Tive que me levantar, com o ônibus em movimento, pegar todas as minhas coisas (que eu já havia ajeitado amorosamente), e me mudar.

Fiquei com o lado da janela – mas continuei ao lado de uma velha.


Continua...

fogo

  sinto que você me leva para outro mundo uma outra dimensão não consigo segurar firme meus pés no chão tento não alimentar