terça-feira, 24 de setembro de 2019

Desabafo nº 1.214


Então caminhei por um tempo por caminhos novos e incompreensíveis para mim, pela quantidade de neurônios que tinha em minha cabeça e a quantidade de ligações que eles já haviam feito entre si.

Eram inexperientes.

Costumam me chamar de menina do interior por várias vezes, e conseguem a minha ira e o meu ódio quando assim o falam, pois não gosto de que assumam que toda minha inexperiência ou todos os meus erros advêm da minha condição interiorana.

O fato é que não absorvo

As vezes não presto atenção às coisas e ao que elas significam

De repente passam, e eu simplesmente não entendi. O tempo passa muito depressa e eu simplesmente não entendi que aquela era minha adolescência, depois minha juventude, depois meu casamento, depois minha maternidade, depois meu filho

Simplesmente é só depois que eu entendo o que era pra fazer

E aí eu já não posso mais fazer... E quando percebo que não posso mais fazer nada por um período que passou, outro período se passa, e eu não entendo nada, só vou morrendo aos poucos.

O que é que tira tudo isso de mim? É a falta de dinheiro? Ou são as escolhas erradas? Ou os preconceitos intrínsecos, que me tornam amuada?

Por que vivo tudo e nada ao mesmo tempo? E por que? Por que estou sempre errada?

Por que as pessoas diferentes que me cercam me querem iguais à elas todo o tempo, e me incomodam. Incomodam... para que eu me adapte. Tenho que me adaptar durante o período em que deveria estar vivendo... e quando me adapto finalmente, o período passou. Ou o período passa sem eu realmente ter me adaptado.

Hoje eu gostaria de estar vivendo com dinheiro. Com dinheiro, comprando um terreno legal para construir uma casa com piscina, churrasqueira e um estúdio com alguns instrumentos, aonde poderia tocar e receber algum ou outro amigo que quisesse tocar também. E aí poderia fazer uma tatuagem colorida na minha perna, pintar um quadro colorido para minha parede, fazer alguns artesanatos naturais e plantar algumas plantas medicinais. Fotografar tudo isso e ser feliz. De onde viria o dinheiro? Da venda das plantas? Da venda dos artesanatos? Ou da venda das fotografias.,. quem sabe... 

Sei que para atingir alguns objetivos eu acabo vivendo algumas vidas que não são minhas, por exemplo, levantar todos os dias às 08 horas da manhã para chegar em um escritório fechado, de um cargo interessante que conseguiram para mim, aonde ganho 1000 reais de gratificação, arredondando assim para um salário de 3.300 reais por mês. Destes, gasto 600 com meu carro, 400 com impostos trabalhistas, 600 de gasolina para vir trabalhar, e o resto, para pagar contas da casa para poder viver. 

Essa roda de rato me mantém em uma vida que não quero viver, e não me possibilita ir para a vida que queria estar vivendo agora. Sinto que estou perdendo mais um período. Não sinto motivação para correr, não sinto motivação para cozinhar minha própria comida ou fabricar minhas próprias roupas, até as roupas que eu visto são chatas, velhas e sem significado algum. Sou apenas hoje uma mulher comum, que parece mais velha do que é devido à gordura acumulada, que usa roupas comuns e tem um emprego comum e uma vida capitalista insustentável, gastando mais do que pode porque as necessidades cotidianas pedem assim.

E como sair dessa roda de ratos? Eu já tive o meu período de poder estudar livremente  e escolher uma profissão que me permitisse produzir sem precisar de correntes. Deixei passar. Passei 4 anos cursando um curso de faculdade que não tinha nada a ver com nada. Eu só queria estar na faculdade. Eu só queria seguir a onda, eu nem sabia o por que. Eu aproveitei para descobrir diversas drogas, diversas pessoas, diversos lugares, diversos comportamentos e diversos pensamentos, obrigada! Isso foi bom. Mas são só experiências, que nem eram tão minhas, e sim apenas observadas ou absorvidas por mim. Eu não tinha a minha casa, eu não comandava a minha vida. Eu não precisava me sustentar e nem entender como eu garantiria os meus proventos. Eu só precisava tirar A e acreditar em um futuro promissor.

De repente esse futuro chegou de maneira tão avassaladora e frustrante que mal pude crer em meus próprios olhos, em meu próprio cérebro, que me dizia constantemente que tudo havia ido mal. Eu não tinha a minha própria casa, eu não tinha o meu próprio dinheiro e eu não tinha o meu próprio caminho. Eu tinha um pensamento de futuro ao lado de um namorado que para mim era uma utopia, e quando pensei em fazer virar realidade, não mais o quis. E por que? Porque eu simplesmente não sabia como fazer. Eu não sabia aonde fazer. Eu corri para me esconder na casa dos meus pais.

Foi então que assustada, medrosa e covarde perante os percalços que se apresentavam a minha frente, comecei a aceitar o mínimo e o básico, o errado e o não interessante. Comecei a aceitar as críticas, o tratamento leviano, as expectativas diferentes das minhas, que nem existiam. Comecei a trabalhar para pagar uma dívida. A dívida aumentou. O salário diminuiu. Briguei com o patrão. Ele me demitiu. Comecei a trabalhar em outro emprego só porque tinha sido demitida. 

Fui demitida novamente. Comecei a namorar porque tinha terminado outro namoro. O novo namoro deu errado. Mas não quis terminar. Entrei em um novo emprego porque precisava de dinheiro. O novo emprego deu errado. Mas não quis sair. De repente, dos 23 anos eu pulei para os 25. Mas nisso consegui realizar pequenos desejos: encontrar angustiosamente com o namorado todos os dias. Comprar um carro, porque nos anos anteriores se eu tivesse tido um carro seria tudo legal. Terminar um bom livro. Conhecer o lago Titicaca. Viajar para Brasília, Rio de Janeiro. Fazer as pazes com o namorado todos os dias através de relações viciantes e de certo modo necessárias.

Pensei que já estava na hora de dar um rumo na minha vida. Morava ainda na casa dos pais. Eu vou mudar e vou morar sozinha, nem que eu passe alguns apertos. Talvez meu namorado more comigo, talvez não. Então eu vomitei e percebi que estava grávida. Talvez eu queira o filho, talvez não. Não. Eu quero o filho. Eu não quero morrer sem deixar um filho neste mundo, e não apenas um, mas três ou quatro. Para que eles fiquem juntos depois que eu partir e carreguem minhas ideias e aprimorem junto com as deles.

OK, eu tive o filho. Eu saí da casa dos meus pais e eu fui morar com o namorado. Mas e agora? Eu quero algo diversificado para a minha vida, algo legal. Eu não quero acordar todos os dias e vir trabalhar as 8, sair 12, voltar 13:30 e sair as 17:30, para ganhar (obrigada, Deus) 3.300 reais que se perdem todos na rotina errada de viver. E numa solidão de ideias, pois as pessoas que compartilham de meus pensamentos não existem mais e eu não tenho amigos. Eu quero acordar, agradecer e saudar o sol. Produzir algo interessante, tecnológico e criativo. Ganhar dinheiro por isso. Quero criar, mas não sei criar. 

Quero sair da roda do rato, mas não sei sair. Cada dia fica mais difícil, porque quanto mais eu trabalho, menos dinheiro eu tenho. E eu compro coisas desnecessárias tipo Caixa de Bombom, Colchão Massageador, Dois Pães de queijo ao invés de um. Meu carro dá problemas todo mês e eu gasto 1000 reais. 

Quero comprar minhas roupas diferentes, quero de volta meus amigos diferentes. Quero viver fora desse padrão infame e medíocre. Quero minha inteligência de volta, saber fazer coisas ou pensar coisas melhores. Não sei mais quanto é a fórmula de Bháskara, nem falar bon'aprés-midi mon ami. Só sei falar - considerando a Lei nº Tal, Convocamos a Reunião Ordinária Tal. Protocolar. Puta que pariu. Mas se não é isso, 

É o que? Como vou sustentar o meu pequeno, garantindo que entre dinheiro todo mês? Mas mais do que isso, eu quero garantir coisas FODAS pra ele, e não um salarinho fixo do caralho. PS.: ISSO QUE ESTOU GANHANDO UMA GRATIFICAÇÃO DE 1000 REAIS. Se eu sair desse carguinho do caralho, ganharei 2000 por mês. Puta que pariu 2.

Roda de ratos do caralho, eu vou sair de você. Eu tenho 27 anos, mas eu vou superar. Eu sou super nova ainda e eu vou criar uma oportunidade pra mim.  



quarta-feira, 4 de setembro de 2019

PURA VIDA PACHAMAMA


P U R A V I D A
Há dois anos eu te conhecia no Lago
T I T I C A C A
E as terras de plantação
B O L I V I A N A
Que produzem o Maní
P A R A A  S O P A
Entre muitos
V I A J A N T E S
Sonhos nós
C O M P A R T I L H A M O S
Alimento e abrigo
P R A C A N T A R M O S T O D O S  J U N T O S
Mergulhar no F R I O DO LAGO
Almoçarmos LADO A LADO
EXPERIMENTAR do Vinho
Do Kefir e do Cachimbo
De tudo que V O C Ê S P L A N T A R A M
E eu cheguei Só Pra Colheita
Pondo minhas M Ã O S NA T E R R A
N a T erra Boliviana
Altitude Altiplana
Pacha Minha P A C H A M A M A
De amigos e outros amigos
Mas de língua Diferente
S U B A O M O R R O C O M I G O
Masque A  C o C a, veja o Brilho
E l e s h o me na g e i a m o  Inca
E eu fumo o capulho

fogo

  sinto que você me leva para outro mundo uma outra dimensão não consigo segurar firme meus pés no chão tento não alimentar