quinta-feira, 18 de abril de 2019

Altiplano


Ela iria lembrar-se daquela viagem
Daquelas ruas de pedra, do museu,
dos cachorros na rua e das mesas nas calçadas
Por muitas vezes, ao longo dos anos, na chegada das meias estações
O morro de Salta, a vegetação amarelo-queimado
A subida do bondinho e o vinho ao cair da tarde
Ouvindo os sons do altiplano, das vozes misturando-se no vento que começava a esfriar
Llamas na praça, juntamente com seus donos
E pequenos indiozinhos vestidos com roupas multicoloridas
Daquela vez que ela, acreditando estar livre e sozinha, conheceu a alegria da amizade
De partilhar e perceber que podia ser ela mesma
Enquanto organizava suas obrigações
Todos os anos ela tentou fugir
Mas o carma veio lhe cercar
Qual o erro a ser consertado? Por qual pecado está sofrendo as consequências
Qual a verdade que precisa ser dita para que seja liberta?
Ela sentava e esperava, esperava
Lembrava da viagem e do vento, saudade
Saudade dela mesma, sozinha, liberta, aventura
Saudade de não chorar
Todos os anos ela mudava-se em março, libertava-se em junho, caía em agosto
Acreditava em setembro, chorava em novembro, agarrava-se em dezembro
E rezava

fogo

  sinto que você me leva para outro mundo uma outra dimensão não consigo segurar firme meus pés no chão tento não alimentar